quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A leitura e a escrita no hipertexto

Com a introdução e o desenvolvimento da cultura digital, as gerações que estão passando pelo processo de alfabetização e que ,portanto, estão tendo acesso ao livro eletrônico, terão a oportunidade de uma educação distinta da qual tivemos. Nossa educação pré-escolar de leitura e escrita foi essencialmente baseada em textos e atividades contidas em livros e cadernos de atividades. Estas práticas metodológicas nos habituaram a um estilo de texto linear, com início, meio e fim, no qual tínhamos na escrita impressa a única forma de interagir com o universo criado pelo autor. E assim fomos nos acostumando, na maioria das vezes, a pensar da maneira como o ensino nos era repassado, sem a possibilidade de explorar simultaneamente os várias caminhos do conhecimento, de construção do saber. Felizmente, hoje temos acesso a todas essas novas tecnologias e linguagens, como a Internet, a multimídia, hipertexto, telemática, hipermídia etc, e podemos ainda enriquecer os nossos saberes. E isso, possibilitará o surgimento de novas abordagens e estratégias de ensino.
Em relação à cultura do hipertexto, a maioria das escolas, em especial as da rede pública de ensino, ainda lançam as suas estratégias metodológicas baseadas em um plano de ensino que tem como um de seus principais recursos didáticos o livro impresso, que fornecerá aos alunos apenas textos em uma linguagem linear. Diferente, portanto dos hipertextos que dispõem, entre outras coisas, de recursos audiovisuais e que permitem uma maior interação entre leitor e autor. Essa nova forma de obter o conhecimento está acessível, sobretudo, por meio da Internet. E, como muitos alunos têm, fora da escola, acesso ao computador, seria de se esperar que a escola também ficasse “antenada” a essa nova realidade. Pois assim poderia ensinar aos discentes a melhor forma de aproveitar o grande potencial de ensino trazido pela informação nos hipertextos. Portanto, uma das formas da escola lidar com essa nova cultura é estimulando a capacitação de professores para que eles se qualifiquem para que possam usar a linguagem do hipertexto em suas aulas e fazer da curiosidade dos alunos um ponto de partida para as novas descobertas da linguagem digital o que viabilizará importantes transformações no modo de pensar e agir de nossas crianças.
A nossa relação com a leitura e a escrita por meio da Internet será mudada. Alguns podem acreditar que para pior e outros para melhor. Eu prefiro ser otimista, quando eu digo que os benefícios serão maiores do que as perdas oriundas dessas transformações. Em primeiro lugar poderemos explorar uma maior possibilidade de obter o conhecimento por diferentes meios audiovisuais, e sem a necessidade de seguir um caminho único até o saber. Nós mesmos poderemos escolher a melhor forma de aprender de acordo com as nossas afinidades e ritmo de aprendizagem. O processo de ler e escrever nunca foi tão dinâmico e versátil como o é hoje, pois milhares de sites estão disponíveis ao acesso do grande público, democratizando a informação e unindo os autores dos hipertextos e os hiperleitores, permitindo o intercambio de informações.
O computador será um grande estimulador do ensino por meio da leitura uma vez que a Internet presente nele possui uma quantidade quase infinita de informação na forma de hipertexto que são todos dias acessados por milhares de usuários em todos os pontos do planeta. Estimulando incrivelmente o hábito de ler, de pesquisar e de conhecer. Coisa que no passado seria impensável sem a rede mundial de computadores, pois se alguém que mora no Brasil tivesse interesse de ler uma obra norte-americana, por exemplo, teria que ir a alguma biblioteca, passar um certo tempo procurando o volume de seu interesse entre tantos outros enfileirados nas prateleiras ou ir até uma livraria e comprar o seu exemplar, caso ele estivesse disponível para venda, senão teria de fazer uma encomenda e esperar pacientemente a sua correspondência. Uma maratona!
Em relação ao hipertexto, ele é subversivo porque ele agrega um conjunto de mudanças que estabelecem novas relações nas formas de comunicação. Por exemplo: não existe mais uma noção de autoria, pois o leitor pode reescrever os caminhos do texto, optando por outras vias; não existe mais a necessidade de seguir o modelo linear da leitura, visto que no hipertexto há vários inícios e fins diferentes para uma leitura, sendo possível várias narrativas; não existe mais um controle rígido da forma no uso de palavras, imagens e sons são apresentados nas páginas dos sites, surgindo a chance de ampliar esses recursos; a relação do leitor com a obra também mudou porque ele pode agora ter acesso a um texto maleável e interativo por meio das janelas e múltiplas caixas de texto, sem a necessidade física de ter um volume ou de ficar virando as páginas encadernadas. Assim diante dessas mudanças que provocou, o hipertexto se tornou subversivo.
Outra conseqüência é que nem todos os leitores sentem facilidade na leitura apoiada em suportes virtuais. Muitos se sentem ainda inseguros na navegação hipertextual, e alguns vêem os links como obstáculos à litura com “início, meio e fim”. O hipertexto pode ser visto ainda como algo que dificulta a organização das idéias e torna a leitura mais demorada.
Ao que parece, a leitura apoiada por suporte virtual tem inúmeras vantagens que superam consideravelmente os pontos negativos. Uma delas diz respeito às incontáveis possibilidades de exploração dos recursos contidos nos textos eletrônicos, que podem se apresentar na forma da escrita hipertextual. Esta permite o uso de imagens e movimentos (pluritextualidade), e maior praticidade de acessar vários textos sobrepostos (intertextualidade) e locais na rede mundial de computadores. Promovendo uma interação (interatividade) mais dinâmica com a informação a qual pode ser assimilada durante a leitura seguindo se uma trajetória definida pelo próprio leitor (não-linearidade). A leitura em hipertexto, portanto, é rica de informações, é prazerosa e permite aliar som, imagem e escrita.
Outra característica importante é a aproximação da forma de funcionamento do hipertexto com a forma de funcionamento do pensamento humano. Pois: “As pessoas raciocinam segundo estruturas que ora podem ser lineares, ora não-lineares, mas operam concomitantemente. A escrita não-seqüencial do hipertexto permite representar um conhecimento que captura e articula, simultaneamente, componentes de natureza diversificada”.
Em relação às desvantagens, podem ser citadas o excesso de dados, muitos dos quais poderiam ser classificadas como “lixo” digital por alguns usuários. Pois agora é preciso estar atento para não se perder com tanta informação disponível na rede, é importante selecionar ou “filtrar” o que se vai ler e também se habitual as novas linguagens virtuais que desafiam as pessoas menos acostumadas a esse universo.
Uma das principais diferenças dos textos tradicionais encontrados nos livros impressos é a possibilidade de definição de autor e leitor. O que nem sempre é fácil de perceber nos textos eletrônicos, pois se tratando de um hipertexto pode haver inúmeros colaboradores responsáveis pelo produto final, sendo que um mesmo “autor” ou “programador” pode estar envolvido em diferentes etapas do processo de produção, como na elaboração dos textos, da arte gráfica, dos efeitos visuais e sonoros etc. E ainda o leitor pode interagir com essas informações contidas nas páginas dos sites, como dando um depoimento, fazendo um comentário sobre a obra, participando de uma enquete ou votação etc.
Assim autor e leitor nunca antes tiveram tanta aproximação e interação, o que torna um pouco mais difícil definir a idéia de autoria.

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